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O mercado financeiro brasileiro segue mergulhado em pessimismo, com gestoras de recursos adotando uma postura cautelosa diante das incertezas fiscais e monetárias que dominam o cenário econômico. Após o agravamento nos preços dos ativos locais no final de 2024, provocado pela frustração com o pacote de revisão de gastos do governo, a confiança dos investidores permanece baixa. A trajetória da dívida pública é vista como insustentável, e a ausência de medidas concretas para conter os gastos reforça a visão defensiva sobre bolsa, real e juros.
A Vinland Capital, representada pelo economista-chefe Aurelio Bicalho, aponta que o ajuste fiscal necessário está longe de ser alcançado, com a necessidade de um superávit entre 2% e 2,5% do PIB para estabilizar a dívida pública. Segundo a gestora, a falta de ações estruturais dificulta qualquer otimismo em relação à economia brasileira. A Vinland mantém posições "tomadas" na curva de juros de longo prazo, principalmente para 2027, além de apostas compradas no dólar contra o euro, o iene e o real.
O sentimento negativo é compartilhado por outras gestoras, como a Ibiuna Investimentos, que avalia que sem uma solução efetiva para o problema fiscal, os movimentos de alta nos juros, a desvalorização do real e a fraqueza da bolsa devem persistir. A gestora mantém posições defensivas em ativos brasileiros, incluindo apostas na alta dos juros nominais e na inflação implícita, além de posições compradas em dólar. De forma semelhante, a XP Asset Management, representada pelo cogestor Bruno Marques, destaca a interdependência entre os cenários fiscal e monetário. Marques afirma que o Banco Central precisará elevar ainda mais os juros devido à pressão fiscal sobre a atividade econômica, agravando a relação dívida/PIB. Apesar de encerrar algumas posições em juros, a XP mantém apostas na valorização do dólar contra o real e na alta da inflação implícita.
A deterioração do cenário fiscal também preocupa Pedro Dreux, gestor da Occam, que alerta para o risco de inflação acima de 7% em 2025 caso o governo não implemente medidas de controle de gastos. Segundo Dreux, os mercados já precificaram taxas de juros acima de 17% para 2025, evidenciando uma deterioração contínua. Ele ressalta que os sinais do governo não indicam mudanças estruturais no lado dos gastos, reforçando um quadro de volatilidade elevada.
Outras grandes gestoras também mantêm posições conservadoras. A Verde Asset destaca os impactos inflacionários da desvalorização cambial e mantém posições defensivas em bolsa e no real, além de pequenas apostas na queda dos juros reais. O Bahia Asset Management sustenta posições "tomadas" em juros nominais e reais, com apostas vendidas no real contra uma cesta de moedas. O Opportunity Total, por sua vez, aposta contra o real, argumentando que a política cambial do Banco Central gerou distorções no preço da moeda, enquanto a Kinea Investimentos mantém posições vendidas na bolsa brasileira, refletindo sua visão de instabilidade interna e um cenário desfavorável para mercados emergentes devido às elevadas taxas de juros nos EUA.
A Legacy Capital também adota uma abordagem defensiva, expressando preocupação com o ritmo acelerado de venda de reservas pelo Banco Central e projetando uma inflação de 6,2% para 2025. A gestora mantém baixa exposição ao mercado doméstico, refletindo a incerteza generalizada.
Com as eleições presidenciais de 2026 no horizonte, o cenário de incerteza deve se intensificar, pressionado por uma combinação de desaceleração econômica, inflação elevada e juros restritivos. A falta de ações concretas por parte do governo para enfrentar os desafios fiscais tem gerado frustração entre investidores, que veem na inércia governamental um fator de risco adicional. Sem mudanças estruturais, a volatilidade deve permanecer alta, dificultando qualquer perspectiva otimista para os ativos brasileiros no curto prazo.