Views
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15), que é considerado a prévia da inflação oficial no Brasil, registrou uma alta de 0,54% em outubro de 2024, após um aumento de 0,13% em setembro, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira (23) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado deste mês é o maior para o período desde 2021, quando o índice havia subido 1,20%.
O resultado superou as expectativas do mercado, que projetava uma alta mediana de 0,51%, conforme levantamento do Valor Data com 31 consultorias e instituições financeiras. As estimativas variavam entre 0,40% e 0,60%.
Energia elétrica é o principal vilão da inflação em outubro
A maior pressão inflacionária de outubro veio da energia elétrica, que apresentou uma variação de 5,29%, o que representou um impacto de 0,21 ponto percentual no índice geral. Esse aumento foi impulsionado principalmente pelos reajustes tarifários e pela maior demanda por eletricidade.
Com o dado de outubro, o IPCA-15 acumula uma alta de 4,47% nos últimos 12 meses, acima dos 4,12% registrados até setembro. Já no acumulado de janeiro a outubro de 2024, o índice soma 3,71%, refletindo um aumento gradual dos preços ao longo do ano.
Inflação supera a meta do Banco Central
O resultado de 4,47% em 12 meses também ficou acima da mediana das expectativas do mercado, que projetava uma alta de 4,43%. A meta de inflação estabelecida pelo Banco Central (BC) para 2024 é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, entre 1,5% e 4,5%.
Esse descompasso entre o IPCA-15 e a meta reforça os desafios enfrentados pela autoridade monetária para manter a inflação sob controle, especialmente em um cenário de pressões inflacionárias em diversos setores.
Alimentação e habitação puxam aceleração de preços
Entre os nove grupos de despesas que compõem o IPCA-15, dois se destacaram na aceleração de preços entre setembro e outubro: alimentação e bebidas, que passou de 0,05% para 0,87%, e habitação, que subiu de 0,50% para 1,72%, com grande influência da alta na energia elétrica.
Outros setores também apresentaram aceleração, como artigos de residência (de 0,17% para 0,41%), vestuário (de 0,12% para 0,43%), saúde e cuidados pessoais (de 0,32% para 0,49%), despesas pessoais (de -0,04% para 0,35%) e comunicação (de 0,07% para 0,40%).
Por outro lado, o grupo de transportes intensificou a deflação, passando de -0,08% em setembro para -0,33% em outubro. Já a categoria educação manteve a mesma taxa de 0,05% registrada no mês anterior.
Núcleos da inflação aceleram
A média dos cinco núcleos do IPCA-15, monitorados pelo Banco Central, acelerou para 0,43% em outubro, comparado aos 0,18% de setembro, de acordo com cálculos da MCM Consultores. Em termos anuais, a média desses núcleos passou de 3,60% para 3,81%, refletindo o aumento das pressões inflacionárias de forma mais estrutural.
Esses núcleos são componentes da inflação que desconsideram itens voláteis, como alimentos e combustíveis, e são uma medida importante para o BC avaliar a tendência subjacente dos preços e a efetividade da política monetária.
Perspectivas para a inflação
O aumento no IPCA-15 em outubro, puxado pela alta da energia elétrica e dos alimentos, reforça a necessidade de atenção por parte do Banco Central no controle da inflação. Com a meta de 3% para 2024, o BC tem a difícil tarefa de ajustar sua política monetária para evitar que a inflação ultrapasse o teto da meta, especialmente com os impactos vindos de fatores como preços administrados e a volatilidade em determinados setores.
A continuidade do monitoramento dos núcleos e das expectativas inflacionárias será crucial para a trajetória da inflação nos próximos meses, à medida que o cenário econômico segue desafiador e com incertezas tanto no mercado doméstico quanto no internacional.