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O Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu o mercado ao sinalizar novas elevações consecutivas de 1 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic, em um cenário marcado por inflação alta e incertezas econômicas. A indicação levou economistas a revisarem suas projeções, com muitos ajustando o limite do ciclo de aperto monetário para cerca de 15%.
A postura mais conservadora do Banco Central foi destacada por Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, que avaliou o retorno do forward guidance como um sinal de maior assertividade. Para Pinheiro, a mudança no tom do comunicado reflete uma percepção de que o cenário econômico é agora mais adverso do que incerto, justificando o endurecimento na política monetária.
Felipe Rodrigo Oliveira, economista-chefe da MAG Investimentos, revisou sua estimativa para a Selic de 13,25% para 14,75% no fim do ciclo, mas deixou aberta a possibilidade de ajustes adicionais, dependendo das próximas publicações do Banco Central. Já Carlos Kawall, sócio-fundador da Oriz Partners e ex-secretário do Tesouro Nacional, acredita que o limite de 15% seja alcançado, mas considera improvável que esse patamar seja mantido por um período prolongado.
A decisão do Copom, segundo Igor Barenboim, economista-chefe da Reach Capital, fortalece a credibilidade do Banco Central e afasta temores de uma deterioração acelerada do cenário fiscal. Ele destacou que a postura firme do BC deve influenciar positivamente os mercados, com fechamento da curva de juros, apreciação do real e menor especulação contra a moeda brasileira. Apesar disso, Barenboim elevou sua projeção para a Selic, prevendo um pico de 16,50%, enquanto Kawall aponta para um câmbio ainda pressionado, possivelmente entre R$ 6 e R$ 7 no próximo ano.
O comunicado do Copom também é visto como um ponto de união no processo de transição da presidência do Banco Central para Gabriel Galípolo. A postura rígida da instituição gerou um "voto de confiança", segundo Kawall, ao reafirmar o compromisso com a estabilidade econômica e a ancoragem das expectativas de inflação.
Embora a decisão seja amplamente elogiada por sua clareza e assertividade, o impacto sobre o cenário fiscal estrutural continua sendo um desafio. Barenboim destacou que a percepção de deterioração gradual persiste, mas o movimento do BC reduz a probabilidade de desvalorizações acentuadas no câmbio e pressões inflacionárias descontroladas.
Com o mercado ajustando suas apostas e a Selic se aproximando de patamares históricos, o Banco Central volta ao centro do debate econômico, reafirmando seu papel na condução da política monetária em um momento de transição política e fiscal.