Mercado reage à falta de credibilidade fiscal e bolsa brasileira sente o impacto
A falta de credibilidade fiscal e medidas robustas para conter gastos estão afastando investidores da bolsa brasileira

A confiança é um ativo essencial quando se trata da relação entre o governo e o mercado financeiro. Nicholas McCarthy, diretor de estratégias de investimentos e CIO do Itaú Unibanco, afirmou que um "choque de credibilidade fiscal" poderia impulsionar a bolsa de valores brasileira em mais de 30% em apenas uma semana. Contudo, o cenário atual mostra o oposto: a aversão ao risco persiste e os ativos brasileiros seguem pressionados.

Pacote Fiscal Frustra Expectativas

O pacote de contenção de gastos anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no mês passado, não entregou o impacto esperado pelo mercado. Segundo McCarthy, o ajuste é insuficiente para garantir o cumprimento do limite de crescimento das despesas imposto pelo arcabouço fiscal e falha em propor medidas estruturais robustas para contenção de gastos futuros.

Desde o anúncio das medidas, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, já caiu cerca de 5%. Além disso, os investidores estrangeiros têm retirado recursos em massa: em 2024, a saída líquida já soma mais de R$ 32 milhões, conforme dados da B3 até 16 de dezembro.

“O mercado esperava uma resposta mais contundente para os desafios fiscais. A falta de ações concretas compromete a credibilidade do governo e afasta investimentos”, afirmou McCarthy.

Selic em Alta e Pressões Inflacionárias

O cenário econômico também apresenta desafios adicionais. Com o crescimento econômico acima do potencial e expectativas de inflação desancoradas, o Banco Central foi forçado a adotar uma postura mais dura. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic foi elevada em 1 ponto percentual, atingindo 12,25% ao ano. O Banco Central indicou ainda mais duas altas de mesma magnitude nas próximas reuniões.

“O aumento da Selic continuará a impactar negativamente as ações brasileiras. O cenário desafiador deve levar à revisão para baixo das projeções de lucros corporativos, desestimulando ainda mais o mercado”, destacou McCarthy.

Além disso, incertezas globais, como o comércio internacional e a força do dólar, adicionam volatilidade à bolsa brasileira. Apesar disso, o CIO reconhece alguns fatores positivos, como os múltiplos baixos das ações e a expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos, mas afirma que o cenário local demanda cautela.

Brasil Fora do Radar dos Investidores

A falta de visibilidade sobre os rumos da política fiscal e econômica do Brasil tem mantido o país fora do radar de investidores globais. Segundo McCarthy, a ausência de clareza e previsibilidade continua a afastar recursos internacionais.

“Precisamos construir um ambiente de confiança e previsibilidade para que os investimentos voltem ao país. Sem isso, a inflação continuará fora de controle, e a redução dos juros será inviável”, pontuou.

A previsão global também não é animadora para os mercados emergentes. O Instituto de Finanças Internacionais (IIF) estima que os investidores estrangeiros reduzirão em quase 25% o volume de recursos destinados a esses países em 2025, o que deve pressionar ainda mais a bolsa brasileira.

Exposição Reduzida na B3

Diante desse cenário, o Itaú Unibanco reduziu sua exposição na B3 a dois níveis abaixo do neutro, atingindo o menor peso em pelo menos oito anos. Essa posição equivale a uma alocação de apenas 5% em ações brasileiras.

Para McCarthy, o Brasil ainda tem potencial, mas precisa urgentemente de uma reestruturação fiscal séria e uma comunicação clara para reconquistar a confiança do mercado. “Ninguém está olhando para o Brasil no cenário global. Sem visibilidade e ações concretas, os investimentos continuarão parados e o crescimento ficará comprometido”, concluiu.

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