Moody’s rebaixa perspectiva da nota do Brasil de positiva para estável e alerta para rigidez fiscal
Agência de classificação de risco elevou a nota brasileira em outubro do ano passado

A agência de classificação de risco Moody’s anunciou nesta sexta-feira a revisão da perspectiva da nota de crédito do governo brasileiro de positiva para estável. A mudança ocorre poucos meses após a elevação do rating em outubro de 2024, que havia deixado o país a um passo do grau de investimento, perdido em 2016. Apesar do ajuste na perspectiva, a nota de emissor de longo prazo em moeda local e estrangeira foi mantida em "Ba1", o 11º nível numa escala de 21 graus.

Segundo a Moody’s, a alteração da perspectiva reflete a perda de tração nos fatores que vinham sustentando uma eventual melhora do perfil de crédito do país. A agência apontou um “agravamento acentuado da capacidade de pagamento da dívida” e “progresso mais lento do que o esperado na redução da rigidez dos gastos e na construção de credibilidade da política fiscal”.

A manutenção da nota foi justificada pelo tamanho e pela diversificação da economia brasileira, além da baixa vulnerabilidade a choques externos. No entanto, os analistas destacaram que o atual ciclo de juros elevados, com a Selic mantida em 14,75% ao ano, pressiona os gastos com serviço da dívida. A agência afirma que esse cenário está provocando um aumento expressivo dos déficits fiscais e acelerando o crescimento da dívida pública, especialmente nos anos de 2025 e 2026.

No novo relatório, a Moody’s projeta que a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) deve se estabilizar em torno de 88% nos próximos cinco anos, bem acima da estimativa anterior, que era de 82%. A agência alertou que a rigidez dos gastos e o aumento das despesas com juros reduzem a margem do governo para realizar ajustes fiscais significativos.

Apesar de reconhecer medidas recentes, como o aumento de receitas e o controle da alta do salário mínimo dentro do novo arcabouço fiscal, a Moody’s defende que reformas estruturais mais profundas são essenciais para ampliar a flexibilidade orçamentária do governo. Entre elas, cita a necessidade de reduzir a vinculação de receitas e a indexação de benefícios ao salário mínimo, de forma a criar maior capacidade de resposta a choques econômicos.

A agência também ressaltou que a resiliência recente da economia brasileira se deve em parte às reformas estruturais implementadas por governos anteriores e à credibilidade gradual da agenda econômica. Ainda assim, a Moody’s destaca que o espaço para uma elevação do rating continua limitado no curto prazo, devido à sensibilidade fiscal às taxas de juros e à lentidão na adoção de reformas mais amplas.

Em maio de 2024, a Moody’s havia elevado a perspectiva do país de estável para positiva, motivada por avanços na consolidação fiscal. No entanto, o novo diagnóstico da agência indica que, sem medidas mais robustas, a trajetória da dívida pública e a rigidez orçamentária continuam sendo entraves relevantes para uma melhora na nota de crédito do Brasil.

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