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O primeiro trimestre de 2025 foi marcado por uma recuperação expressiva dos fundos imobiliários. Após um 2024 de perdas, o setor voltou a registrar ganhos robustos, com o índice Ifix — que reúne os fundos mais negociados da bolsa — acumulando alta de 6,30% nos três primeiros meses do ano. O destaque ficou por conta de março, quando o indicador saltou 6,14%, revertendo quase completamente a queda de 5,80% registrada no ano anterior.
O desempenho positivo surpreendeu o mercado, sobretudo em um contexto econômico ainda desafiador. Entretanto, ajustes nas projeções de inflação, juros e no cenário macroeconômico deram novo fôlego aos investidores, que voltaram a direcionar atenção para os fundos imobiliários.
Segundo especialistas, três fatores principais explicam a arrancada do setor. Em primeiro lugar, o fluxo de capital estrangeiro para países emergentes beneficiou diretamente os FIIs, ampliando a liquidez dos ativos. Além disso, a percepção de que a alta da Selic chegou ao fim — após o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa básica em 100 pontos-base — abriu espaço para a expectativa de início de um ciclo de cortes.
Essa possível virada no ciclo de juros tem efeito direto sobre os fundos imobiliários. Com a queda do custo de oportunidade, o investimento em renda variável se torna mais atrativo. Na avaliação de Caio Araujo, analista da Empiricus, “com um custo de oportunidade ligeiramente menos restritivo, a migração de capital da renda variável para renda fixa perde intensidade, na margem. Com isso, as cotas dos FIIs respondem positivamente”.
Outro ponto de apoio ao bom momento do setor foi a sinalização do governo em manter a isenção tributária para os fundos. Inicialmente, a proposta de Reforma Tributária previa mudanças que poderiam impactar negativamente os FIIs, ao taxar receitas com aluguéis e arrendamentos. Após pressão do mercado e de entidades do setor, uma nova minuta de lei foi apresentada, mantendo a isenção para locação, venda e arrendamento de imóveis.
Com o alívio fiscal e um cenário de juros possivelmente mais baixos no horizonte, os investidores voltam a considerar os fundos imobiliários como boas alternativas de rentabilidade. Apesar das incertezas de curto prazo — como inflação persistente e o ambiente político instável — o sentimento no mercado começa a virar.
Na visão de Araujo, os FIIs devem continuar entregando resultados positivos. “Assim como observado ao final de 2024 e nos últimos dois meses, notamos arrancadas contundentes dos fundos imobiliários, com retorno de dois dígitos para alguns ativos em horizontes temporais curtos”, afirma o analista.
Para o longo prazo, a perspectiva é ainda mais promissora. Araujo destaca que muitos fundos seguem negociados abaixo do valor patrimonial, principalmente os chamados “fundos de tijolo” — que investem diretamente em imóveis físicos. Segundo ele, isso representa uma janela de oportunidade para quem busca ativos descontados com potencial de valorização.
Diante desse cenário, a recomendação dos especialistas é clara: os fundos imobiliários devem ser acompanhados de perto, com uma análise criteriosa para identificar os ativos mais promissores em meio ao novo ciclo do mercado.