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Em busca de autonomia e maior satisfação no trabalho, as mulheres têm apostado alto no empreendedorismo. Segundo levantamento do Sebrae, em parceria com o movimento Aladas, grande parte das brasileiras que começaram a empreender na pandemia precisaram tirar dinheiro do próprio bolso para dar o primeiro passo.
De acordo com a pesquisa, 78% das entrevistadas abriram seus negócios com recursos próprios e apenas 6% contaram com a ajuda do banco.
“As mulheres são as mais adimplentes e mesmo assim elas encontram dificuldade de conseguir financiamento bancário. Se conseguem, acabam aceitando juros mais elevados (segundo o BMI, 3,5% a mais) pela dificuldade de negociar a condição oferecida”, analisa Daniela Graicar, fundadora do Aladas.
Aposta no empreendedorismo
A publicitária Monique Lima foi uma das mulheres que investiu no próprio negócio para realizar um sonho. Em junho de 2020, ela decidiu encerrar sua trajetória em uma das maiores agências de marketing do país para tirar um projeto inovador do papel: desenvolver uma plataforma de live commerce no Brasil.
“Eu já tinha essa veia empreendedora. Me formei em cinema e fiz seis longa metragens, que no fim são como empresas, né? Filmes de 200 pessoas. Depois disso, fui para a publicidade e lá a minha função era justamente descobrir como a gente sai do ‘falar’ e vai para o ‘fazer'”, comenta Monique.
A Mimo Live Sales surgiu no meio da pandemia, quando Monique ainda estava no período de licença maternidade de seu segundo filho. Ela conta que a ideia partiu de um questionamento sobre como as marcas poderiam manter a conexão com os clientes mesmo estando de portas fechadas.
A proposta da empresa é oferecer um sistema de vendas por lives. Por meio dele, as lojas podem anunciar produtos e realizar vendas ao vivo pela internet. Também é disponibilizado um pacote de serviços que inclui estratégias de divulgação e equipe de apoio para as transmissões.
Passados quase 18 meses, a Mimo reúne mais de 700 clientes. Entre eles, estão grandes marcas como Dolce & Gabana, Givenchy e C&A. Em outubro deste ano, a empresa registrou seu primeiro faturamento expressivo, de R$ 100 mil.
A Mimo pretende realizar sua terceira rodada de financiamento em março de 2022. Os recursos serão destinados à automatização de processos e ao desenvolvimento de novos produtos. Com isso, a projeção é alcançar os R$ 4 milhões de faturamento no final do ano que vem.
Apesar do crescimento acelerado, Monique explica que a empresa ainda está só começando. “Eu ainda nem tenho salário. Essa é a jornada do empreendedor. A aposta é grande, principalmente quando a gente fala de uma startup de tecnologia. O retorno não acontece no primeiro ano”, ela explica.
O que move as empreendedoras brasileiras?
Mas se não dá para contar com o dinheiro logo de cara, por que tantas mulheres resolveram abrir o próprio negócio no meio da crise? Quando perguntadas sobre suas motivações, 46% das empreendedoras entrevistadas pela pesquisa disseram que têm como objetivo priorizar a família. O número representa um salto de 21% em comparação com 2018. Além disso, entram para a lista os sonhos de empreender e de trabalhar com o que gosta.
“Sonhar com o negócio próprio está se tornando cada vez mais a mola que move as mulheres em direção ao empreendedorismo, e não a necessidade. É a oportunidade hoje quem guia o desejo”, avalia Thais Piffer, Gerente de Gestão Estratégica do Sebrae-SP.
Vale lembrar que o empreendedorismo feminino brasileiro está com uma cara cada vez mais jovem. Em 2021, 25% das mulheres que abriram o próprio negócio se encaixam na faixa etária entre 18 e 30 anos. Porcentual bem maior do que o observado nos anos anteriores.
A pesquisa também mostra que mulheres abriram mais negócios do que homens, durante a pandemia. No período analisado, 33% dos novos negócios foram abertos por elas, contra 29% por eles.
No entanto, para muitas, tem sido difícil seguir em frente. 52% das empreendedoras afirmam já ter pensado em desistir do negócio – 13% a mais que os homens (46%). Isso fez com que muitas brasileiras abrissem mão dos seus negócios. Entre março de 2020 e agosto deste ano, o percentual de empresas lideradas por mulheres caiu 51%.
Para a fundadora do Aladas, isso tem tudo a ver com as mudanças que a pandemia trouxe para o cotidiano das mulheres. “Fomos submetidas a uma nova rotina, com uma sobrecarga enorme de afazeres domésticos, assumimos o papel de professoras. Muitas tivemos a família toda sob o mesmo teto, 24 horas por dia, além da pressão com as incertezas do cenário e a responsabilidade extra”, ela explica.
Quase metade das mulheres que permanecem no empreendedorismo dizem persistir por seguirem acreditando no sonho que deu início à empreitada.