Banco Central estuda permitir Pix para o exterior
Comerciantes em cidades populares entre brasileiros no exterior estão encontrando maneiras de oferecer o sistema de pagamentos instantâneos a seus clientes

Enquanto o Banco Central do Brasil ainda prepara o lançamento oficial do Pix internacional, comerciantes em cidades populares entre brasileiros no exterior estão encontrando maneiras de oferecer o sistema de pagamentos instantâneos a seus clientes. Quem visita a Rua Florida, em Buenos Aires, faz compras em lojas de Miami ou atravessa a fronteira para Salto del Guairá, no Paraguai, já pode encontrar a modalidade disponível no comércio local.

Em Salto del Guairá, um funcionário de uma loja de eletrônicos explicou que aceita o Pix porque a loja possui uma conta no Brasil. Muitos estabelecimentos na região de fronteira têm empresários brasileiros entre seus sócios, o que facilita o uso de contas brasileiras, embora as questões legais e tributárias nem sempre sejam respeitadas.

No entanto, para aqueles que buscam operar de forma legal, o mercado vem desenvolvendo soluções. O Itaú Unibanco, por exemplo, lançou em novembro o “Pix no Mundo” para clientes na América Latina. Inicialmente disponível em restaurantes e lojas selecionadas no Uruguai, o banco planeja expandir o serviço para o Paraguai e Chile. Turistas brasileiros podem usar o Pix para pagar em reais no Uruguai, escaneando um QR code nas maquininhas da Oca, o nome da Rede no país vizinho, que exibe o valor convertido no momento do pagamento. "É o primeiro banco incumbente brasileiro a internacionalizar o Pix para a América Latina", afirma o Itaú.

Soluções Tecnológicas para Pagamentos Internacionais

Plataformas de pagamento online também estão desenvolvendo sistemas que permitem pagamentos internacionais via Pix. Essas plataformas "emprestam" sua chave Pix para o estabelecimento credenciado no exterior. No momento da compra, o valor é convertido para reais e depositado na plataforma, que então realiza a transferência internacional para o lojista.

A fintech PagBrasil já oferece esse tipo de solução com seu produto Pix Roaming, que permite a estrangeiros no Brasil usarem o método de pagamento instantâneo em compras, utilizando carteiras digitais ou aplicativos bancários de seus países de origem. Brasileiros também podem pagar com Pix no Uruguai, Argentina e Chile, desde que o banco tenha convênio com uma empresa local. "Em um futuro próximo, ninguém precisará mais do cartão de plástico: todas as transações serão feitas por meio de carteiras digitais", prevê Alex Hoffmann, CEO e cofundador da PagBrasil.

Expectativas para o Lançamento Oficial do Pix Internacional

Executivos do Banco Central já indicaram em várias ocasiões que a facilidade de pagamento internacional está em preparação. Embora o BC não tenha fornecido informações detalhadas, Dione Cordioli, gerente-executiva de meios de pagamento do Banco do Brasil, mencionou que reuniões já foram realizadas para discutir o tema, mas que as regras para a implementação ainda não foram definidas. "A única sinalização é que devemos seguir as normativas do câmbio. Não há ainda uma data definida, mas sabemos que o modelo está bem maduro", afirma Cordioli.

Uma rede internacional deve ser usada para transacionar as operações financeiras. O Banco de Compensações Internacionais (BIS), uma espécie de banco central dos bancos centrais, está desenvolvendo o projeto Nexus, que visa conectar vários sistemas de pagamento instantâneo pelo mundo. "O Nexus tem o potencial de conectar um mercado de 1,7 bilhão de pessoas globalmente, permitindo que elas façam pagamentos instantâneos entre si de forma fácil e barata", disse Agustín Carstens, gerente-geral da instituição, em comunicado em julho.

Crescimento Global dos Pagamentos Instantâneos

Segundo o BIS, mais de 70 países já possuem sistemas de pagamento instantâneo. Internacionalmente, o Pix se enquadra na categoria A2A (account to account, ou conta a conta). Juan Pablo D’Antiochia, vice-presidente-sênior para a América Latina da Worldpay, uma credenciadora de operações de cartões presente em 146 países, destacou que muitos países possuem sistemas semelhantes ao Pix, cada um com suas particularidades.

"O que é maravilhoso no Pix é que ele foi uma iniciativa pública, acessível a todos, e ganhou muita popularidade", afirma D’Antiochia, apontando que em outras nações, iniciativas semelhantes partiram do setor privado. "É aceito por alguns, mas não por todos."

A Colômbia, por exemplo, tem o Pagos Seguros en Línea (PSE), um sistema semelhante ao Pix, que funciona como um débito direto na conta do usuário. Na Argentina, há o Transferencia 3.0. Nos Estados Unidos, o FedNow tenta ganhar mercado, mas enfrenta desafios, pois os bancos podem escolher se querem aderir ou não ao sistema. Alemanha e Índia também têm sistemas semelhantes ao Pix brasileiro.

Uma pesquisa da Worldpay revela que os pagamentos conta a conta estão ganhando popularidade devido ao seu custo mais baixo para os comerciantes, em comparação com outros métodos de pagamento, como os cartões de crédito, que têm taxas de aproximadamente 2%. "Se o Pix internacional superar esse valor, não será competitivo", alerta D’Antiochia. No Brasil, cerca de 30% do valor transacionado pelas empresas de e-commerce em 2023 foi através de operações A2A, e espera-se que esse número aumente para 8% globalmente até 2027, com países como a Polônia atingindo 68%.

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