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A Petrobras, empresa estatal de petróleo do Brasil, anunciou que investirá 102 bilhões de dólares até o final de 2028, à medida que a maior nação da América Latina se posiciona para se tornar uma das principais potências petrolíferas do mundo.
"Alguém tem que produzir petróleo, certo?" disse o CEO da empresa, Jean Paul Prates, em uma entrevista na sexta-feira.
O plano de investimento, revelado na quinta-feira à noite por Prates, é 31% maior do que os 78 bilhões de dólares que a Petrobras havia anunciado em seu plano quinquenal anterior para o período de 2023-2027. Mais de 70% do desembolso será gasto em produção e exploração, segundo o plano.
Enquanto as principais economias do mundo investem pesadamente em energia limpa, buscando se libertar dos combustíveis fósseis, o Brasil tem investido cada vez mais na produção de petróleo, explorando reservas em águas profundas na costa do Rio de Janeiro e de olho em depósitos potencialmente vastos perto da foz do rio Amazonas.
"Só porque chegamos à conclusão de que o mundo precisa de energia limpa e cada vez mais dela", disse Prates, "não significa que devemos condenar o petróleo e parar de bombear da noite para o dia."
Se não fossem os lucros do petróleo, Prates disse que a Petrobras não seria capaz de investir em energia renovável. Tornar-se verde é um processo de "metamorfose contínua", disse ele.
Com cortes na produção por parte da Arábia Saudita e da Rússia, o Brasil está prestes a ser uma das três principais fontes de crescimento na produção mundial de petróleo este ano, ao lado dos EUA e do Irã, segundo a Agência Internacional de Energia, um grupo sediado em Paris composto por alguns dos maiores consumidores de energia do mundo.
O Brasil já é o nono maior produtor de petróleo do mundo e o maior da América Latina de longe. O país registrou uma produção recorde de petróleo e gás em setembro de 4,7 milhões de barris de óleo equivalente por dia, mais do que o dobro do México. Deste total, 3,7 milhões de barris eram de petróleo bruto, equivalente a mais de um quarto da produção dos EUA e 17% a mais do que no mesmo mês do ano anterior, segundo a agência reguladora ANP.
"A Petrobras tem uma capacidade absurdamente alta de gerar caixa", disse Pedro Galdi, analista de investimentos da corretora Mirae Asset Brasil, com sede em São Paulo.
O problema com a Petrobras não é o fluxo de caixa ou o conhecimento técnico, disse Galdi. "A grande preocupação é a política", disse ele, citando temores de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que assumiu o cargo em janeiro, possa buscar maior influência sobre como a maior empresa do Brasil é administrada.
Entre 2011 e 2016, durante o último mandato do Partido dos Trabalhadores no governo, a Petrobras perdeu cerca de 30 bilhões de dólares depois que o governo a obrigou a financiar subsídios à gasolina e ao diesel para combater a inflação. Em 2015, a Petrobras se tornou a maior devedora do setor petrolífero do mundo, devendo 130 bilhões de dólares a credores.
Políticos também usaram a empresa como um cofre por décadas, aceitando subornos em troca de contratos, descobriram os promotores ao investigar o extenso escândalo de corrupção Lava Jato. O caso, descoberto em 2014, envolveu dezenas dos empresários mais poderosos do Brasil. Ele também levou o próprio da Silva à prisão em abril de 2018 por 19 meses, antes que suas condenações fossem anuladas.
Prates disse que não sofreu nenhuma pressão de da Silva para baixar preços e não esperava sofrer. "Lula nunca me pediu diretamente - ou indiretamente - para interferir nos preços", disse Prates - usando uma versão abreviada do nome do presidente - que é membro do Partido dos Trabalhadores. "Estamos comprometidos em honrar a confiança que os investidores depositaram em nós".
Mudanças na governança após o escândalo ajudaram a "blindar" a Petrobras contra os erros do passado, disse Carolina Chimenti, analista sênior da Moody’s Investors Service em São Paulo.
Decisões sobre contratos são agora tomadas por grupos de executivos, não apenas um, aumentando a transparência e desencorajando a corrupção, disse ela.
A Petrobras também vendeu algumas de suas refinarias, renunciando ao seu monopólio sobre o setor e reduzindo sua participação para cerca de 80%, tornando mais difícil para o estado controlar os preços na bomba, disse Chimenti.
No entanto, um aumento nos preços globais do petróleo poderia significar que o governo aumente a pressão mais uma vez, forçando a Petrobras a não repassar os preços mais altos aos consumidores, disse Adriano Pires, um especialista em petróleo do Rio de Janeiro. Ele recusou o cargo de diretor-executivo da empresa no ano passado em meio a uma série de tumultuadas mudanças de gestão.
"O diretor-executivo da Petrobras é o único chefe de uma empresa petrolífera a esperar por preços mais baixos", disse Pires.