Views
Os grandes bancos brasileiros começaram 2025 com o pé direito, contrariando as previsões de um início de ano mais difícil. Os balanços divulgados por Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil mostraram que a demanda por crédito segue forte, com crescimento generalizado das carteiras, mesmo em um ambiente de juros altos.
Juntos, os quatro maiores bancos do país encerraram março com R$ 4,3 trilhões em crédito concedido — uma alta de 11,9% em relação ao mesmo período do ano passado, bem acima da expectativa da Febraban, que era de 8,6%. O lucro consolidado das instituições também cresceu: foram R$ 26,86 bilhões no trimestre, segundo a consultoria Elos Ayta, avanço de 5,3% em relação ao primeiro trimestre de 2024.
Para Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, o cenário foi melhor que o previsto. “A tomada de crédito segue firme. Não dá para dizer que é um cenário totalmente saudável, mas é forte. A inadimplência, na maioria dos casos, está controlada ou até em queda”, afirma.
A exceção foi o Banco do Brasil, afetado por calotes no setor agropecuário — embora tenha sido o banco com maior avanço na carteira de crédito, crescendo 14,4% em 12 meses, para R$ 1,27 trilhão. O Itaú, líder do setor, encerrou o trimestre com R$ 1,38 trilhão em crédito, alta de 13,2% no ano. Bradesco subiu 12,9%, e o Santander teve o desempenho mais tímido, com 4,3% de crescimento.
Juros altos e seletividade no radar
Apesar do desempenho robusto, os bancos já sinalizam moderação no ritmo de crescimento das carteiras para os próximos trimestres, à medida que os efeitos da taxa Selic — atualmente em 14,75% — comecem a pesar sobre a economia.
“Os bancos estão mais seletivos, buscando operações com mais garantias”, afirma Eduardo Nishio, da Genial Investimentos. Ele acredita que a atividade segue aquecida por conta do estímulo fiscal do governo Lula, mas alerta para o impacto persistente da inflação, especialmente nos serviços.
Segundo o boletim Focus do Banco Central, o mercado espera que a inflação feche o ano em 5,51%, enquanto o PIB deve crescer 2%, refletindo uma desaceleração moderada da economia.
Para Milton Maluhy, presidente do Itaú, esse cenário impõe cautela: “Com juros mais altos, o crédito naturalmente cresce menos. O desafio será observar como o mercado vai se comportar diante de um ambiente mais restritivo.”
Marcelo Noronha, CEO do Bradesco, concorda. “Esse ritmo forte de crescimento não se sustenta por muito tempo. A tendência é de desaceleração, a menos que os juros caiam significativamente.”
Novo consignado: aposta para manter o fôlego
Uma das apostas do setor para impulsionar o crédito é a nova modalidade de consignado lançada pelo governo federal, que permite o uso do FGTS como garantia. O Banco do Brasil foi o primeiro a abraçar a iniciativa com força, liberando R$ 3 bilhões no primeiro trimestre. A meta da instituição é chegar a R$ 7 bilhões em contratações nos próximos meses.
Para os demais bancos, o produto ainda está em fase de ajustes operacionais, mas o potencial é grande. “Essa linha tem risco praticamente zero para os bancos, pois o FGTS cobre eventuais calotes. É um modelo que pode ganhar escala rapidamente”, diz Nishio.
O especialista acredita que o novo consignado pode provocar uma migração do crédito pessoal tradicional para essa nova modalidade, o que ajudaria a expandir a alavancagem do sistema financeiro de forma mais segura.