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A inflação na Argentina fechou 2024 em 117,8%, marcando uma desaceleração significativa em relação aos impressionantes 211,4% registrados em 2023. Os dados, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) na terça-feira (14), mostram que o país conseguiu avançar no controle da inflação, um dos maiores desafios da economia local. Em dezembro, a alta de preços foi de 2,7% em comparação ao mês anterior, a terceira leitura mensal consecutiva abaixo de 3%.
O ministro da Economia, Luis Caputo, comemorou o resultado, destacando que ele confirma "a continuidade do processo de desinflação". Segundo Caputo, o desempenho positivo foi alcançado apesar da sazonalidade típica de dezembro, associada às festas de fim de ano e ao início das férias de verão, e em meio à recuperação da atividade econômica e da renda real da população.
Os setores que mais contribuíram para a inflação mensal foram "moradia, água, eletricidade, gás e outros combustíveis", com aumento de 5,3%, e "comunicação", que subiu 5%. Já os segmentos com menor crescimento foram "equipamento e manutenção do lar" (0,9%) e "vestuário e calçados" (1,6%).
Redução do risco-país e superávit fiscal
Outro sinal positivo foi a redução do risco-país da Argentina para o nível mais baixo desde 2018, indicando maior otimismo dos investidores com os ativos locais. Essa melhora reflete a confiança nas políticas econômicas implementadas pelo presidente Javier Milei, que assumiu o cargo com um plano agressivo de ajustes fiscais e liberalização da economia.
Sob a gestão de Milei, o governo encerrou 2024 com superávits fiscais pela primeira vez em 13 anos. Em novembro, o superávit foi de 357 bilhões de pesos (cerca de US$ 337 milhões), e o ano deve fechar com um superávit primário de 1,9% do PIB. Esse resultado é considerado crucial para fortalecer as reservas internacionais e atrair investimentos estrangeiros.
O "Plano Motosserra" e seus impactos
Os avanços econômicos vieram acompanhados de medidas drásticas conhecidas como "Plano Motosserra", que incluem cortes de gastos públicos, redução de subsídios, privatizações e flexibilização de normas trabalhistas. Entre as ações, destacam-se o fim de restrições à exportação, a eliminação de congelamentos de preços e a retirada de subsídios a serviços básicos como transporte público, água e energia.
Embora essas medidas tenham reduzido os gastos do governo e contribuído para a queda da inflação, o impacto sobre a população foi severo. A pobreza aumentou de 41,7% no início do mandato de Milei para 52,9% no final do primeiro semestre de 2024, afetando mais de 15,7 milhões de pessoas. Com o fim dos subsídios, os custos de bens e serviços básicos dispararam, agravando as condições de vida das camadas mais vulneráveis.
Contração econômica e desafios futuros
O ajuste fiscal também gerou uma desaceleração significativa na atividade econômica. No terceiro trimestre de 2024, o PIB argentino recuou 2,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, e as projeções do FMI indicam uma contração de 3,5% para o ano. Apesar disso, Milei mantém alta popularidade, com muitos argentinos acreditando que as medidas são necessárias para colocar o país no caminho da recuperação.
O governo agora enfrenta o desafio de equilibrar o ajuste fiscal com políticas que reduzam os impactos sociais, especialmente em um cenário de desemprego elevado e retração econômica. A expectativa é que as reformas implementadas comecem a mostrar resultados mais expressivos em 2025, possibilitando uma retomada do crescimento e melhorias nas condições de vida da população.