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As ações da Petrobras operam com volatilidade, nesta segunda-feira (11), depois do enorme tombo registrado na última sexta, 8, em meio aos ruídos provocados pela decisão da empresa de não distribuir dividendos extraordinários, como era esperado pelo mercado. Os investidores há tempos vêm manifestando temor pela ingerência política na empresa, que vem derrubando seu valor de mercado.
Na manhã de hoje, os papéis da empresa abriram em queda em torno de 2%. Mas, no início da tarde, os papéis preferenciais viraram e subiam 2,05%. Na sexta-feira, as ações fecharam em queda de 10,5%, o que significou uma perda de valor de mercado de R$ 55 bilhões em apenas um dia.
O pano de fundo para o desempenho foi a decisão da companhia de não distribuir dividendos extraordinários avaliados em R$ 43,9 bilhões, o que provocou um enorme ruído no mercado. A decisão de reter os recursos foi uma orientação do próprio governo, como demonstra a decisão, dividida, do conselho de administração. Votaram contra a distribuição cinco conselheiros indicados pelo governo e a representante dos trabalhadores. Os quatro representantes de acionistas minoritários votaram a favor da distribuição de 100%.
Segundo Prates, inicialmente, a diretoria da estatal propôs 50% dos dividendos extraordinários para reserva e 50% para pagamento agora. Mas, diante da resistência dos representantes do governo, ele se absteve de votar na reunião. “Essa novela (dos dividendos) continua, não acabou.”
Os diretores da empresa disseram, na sexta-feira, que,mesmo sendo retido, esse dinheiro acabará voltando para o bolso dos acionistas, já que não pode ser usado para outra coisa - como investimento ou pagamento de dívida.
Mas, no mercado, mais uma demonstração de ingerência política na empresa acabou pesando. O presidente Lula tem dado mostras ininterruptas de que pretende usaras empresas estatais diretamente dentro do seu plano de governo - mesmo sendo,no caso da Petrobras, uma empresa aberta, com ações em bolsa e sócios minoritários. “O que queremos é o seguinte: as empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro. É só isso que queremos”, disse Lula recentemente, em entrevista à RedeTV.
Uma das frentes desses investimentos, no caso da Petrobras, é a volta dos recursos para refinarias. O governo já anunciou, por exemplo, a retomada das obras de Abreu e Lima, em Pernambuco, refinaria que se tornou um dos principais símbolos da corrupção nos governos petistas anteriores.
Com um custo inicial estimado em R$ 7,5 bilhões, as obras do empreendimento – tocadas pelas empreiteiras Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão – consumiram quase R$ 60 bilhões, sem terem sido concluídas. De acordo com a delação premiada do ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria da Silva, as obras na refinaria teriam rendido R$ 90 milhões em propinas a ex-executivos da estatal ligados ao PP, ao PT e ao PSB.
Ministério da Fazenda
No caso dos dividendos extras, porém, integrantes da própria equipe econômica defenderam o pagamento em conversas com Prates durante a semana passada. Esses recursos ajudariam o Ministério da Fazenda no esforço fiscal para alcançar a meta de déficit zero.
A União é o principal acionista da empresa e, portanto, seria a maior beneficiária desses recursos. Para membros da Fazenda, a proposta de Prates, de distribuir 50% dos valores extraordinários apurados em 2023, “era bem razoável”. A ideia, porém, não teve o apoio necessário no conselho de administração, que decidiu por restringir a distribuição apenas aos dividendos ordinários, retendo o restante.
Risco político
O Goldman Sachs avalia que o risco de uma intervenção governamental na Petrobras cresceu após a estatal decidir não pagar dividendos extraordinários com o lucro remanescente no quarto trimestre de 2023. Por outro lado, o banco vê que isso já está parcialmente refletido no preço das ações, com o American Depositary Receipt (ADR) fechando em baixa de 11,5% na sexta-feira, 8.
“Historicamente houve vários casos em que as manchetes aumentaram a percepção de risco, o que não levou a uma mudança de fundamentos significativos o suficiente para evitar a valorização do preço das ações no longo prazo”, disseram os analistas Bruno Amorim, Joao Frizo, e Guilherme Costa Martins, em relatório enviado a clientes. (Estadão)