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Uma pesquisa do Serasa em parceria com o instituto Opinion Box revelou que mais de 40% dos inadimplentes no Brasil já recorreram a casas de apostas virtuais, conhecidas como "bets", como forma de tentar ganhar dinheiro para pagar dívidas. O levantamento destacou que 46% dos consumidores negativados admitiram ter apostado online ao menos uma vez, com muitos já endividados antes de iniciar as apostas. Entre os entrevistados, 30% disseram ter abandonado a prática, mas 16% continuam apostando.
Cerca de 57% dos inadimplentes que participaram das bets só ficaram com o nome negativado após começarem a jogar. Além disso, 44% dos entrevistados recorreram às apostas na tentativa de quitar dívidas, evidenciando o uso dessas plataformas como uma solução rápida para problemas financeiros. No entanto, o cenário ainda é relativamente recente, já que 58% dos usuários acessam as bets há menos de dois anos.
O especialista em educação financeira do Serasa, Fernando Gambaro, destacou que buscar resolver dívidas por meio de apostas é uma atitude precipitada e preocupante. Ele atribui essa decisão à falta de educação financeira e alerta que, em vez de solucionar o problema, a prática tende a agravá-lo. Gambaro enfatizou a importância de renegociar dívidas com planejamento em vez de recorrer a soluções rápidas e arriscadas.
A pesquisa também revelou que 29% dos inadimplentes buscaram as bets como uma forma de ganhar dinheiro rápido para pagar contas ou adquirir bens, enquanto 32% viam as apostas como uma fonte de renda extra. Apesar disso, os resultados financeiros nas plataformas não são animadores: 52% dos entrevistados relataram perdas, sendo que 20% tiveram apenas prejuízos e 32% perderam mais do que ganharam. Apenas 27% disseram que ganhos e perdas foram semelhantes.
Outro dado alarmante é que 13% dos endividados admitiram ter deixado de pagar contas para apostar, enquanto 10% chegaram a contrair empréstimos para financiar as apostas. Além disso, 4% recorreram a familiares, amigos ou usaram reservas de emergência para apostar, embora a maioria tenha utilizado recursos provenientes do próprio salário (69%) ou de ganhos em outras apostas (19%).
Felipe Schepers, diretor de operações da Opinion Box, alertou para a falsa percepção de que apostas são investimentos. Ele explicou que muitos apostadores acreditam poder multiplicar o dinheiro apostado para pagar dívidas, mas a realidade é bem diferente, resultando em uma "falsa ilusão".
O levantamento foi realizado em outubro e contou com 4.463 entrevistas de inadimplentes de todas as faixas etárias e classes sociais, sendo 51% das classes D e E, 35% da classe C e 14% das classes A e B.
A pesquisa também trouxe dados do setor de comércio, que afirmou que as bets contribuíram para deixar 1,3 milhão de brasileiros inadimplentes no primeiro semestre de 2024. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apresentou ao STF que o volume de apostas aumentou quase 10 vezes em dois anos, com taxas de serviço totalizando R$ 28,4 bilhões em 12 meses até junho.