Pesquisa aponta sete em cada 10 famílias brasileiras com dívidas acumuladas e o uso indevido do cartão de crédito

O segundo semestre de 2021 começou com 71,4% das famílias brasileiras endividadas, segundo a  Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Os dados são da Pesquisa Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), que avaliou o cenário no mês de julho passado e constatou que foi o pior da série histórica desde 2010. 

Mesmo com a pandemia de covid-19 tendo contribuído significativamente para este cenário, a falta de planejamento do orçamento doméstico tem levado o trabalhador a se afundar em dívidas. O uso inadequado do cartão de crédito também ajuda no acúmulo de faturas e boletos que estouram a renda do mês.

Para o pesquisador Reis Rocha, não há dúvidas de que a pandemia de covid-19 tem uma relação muito forte com o endividamento de grande parte da população brasileira. "Podemos atribuir como a causa principal da inadimplência à crise pandemia de Covid-19, associada a outros fatores como a  inflação elevada, a redução de auxílios sociais por parte do governo que foi no pico da pandemia de coronavírus muito relevante para as pessoas de baixa renda", cita. "Os níveis de desemprego cresceram e tivemos uma drástica diminuição da oferta do trabalho formal e informal", acrescenta.

Reis ressalta ainda que não se pode esquecer das famílias que foram acometidas pela infecção do coronavírus. Muitas perderam o ente que era responsável pela renda da casa e as que conseguiram se recuperar da covid-19 tiveram gastos com pós-tratamento, que inclui as despesas com remédios, fisioterapia e acompanhamento psicológico por causa da ansiedade.

Cartão de crédito

De acordo com a pesquisa, o principal acúmulo de dívidas dos brasileiros são provenientes de compras feitas com cartão de crédito. Exatos 82,7% dos endividados alegam que chegaram a este ponto porque tiveram de deixar de pagar pelo menos uma fatura ou fizeram o pagamento mínimo, que acumulou juros em cima do valor. "O cartão de crédito apresenta-se como o maior vilão nas opções de crédito de curto prazo", frisa Reis Rocha. "As famílias estão precisando readequar suas dívidas para períodos mais longos com menor parcela de amortização", comentou.

Os demais endividados alegam ter ficado endividados por conta do cheque especial, cheque pré-datado, empréstimo e prestações de carro e da casa. "Estes dados revelam que o brasileiro, em sua maioria, não faz o planejamento do orçamento doméstico e acaba acumulando dívidas", disse o pesquisador.

Planejamento

Para o professor, o brasileiro precisa adotar a cultura da elaboração do orçamento familiar. Essa falta de planejamento leva muitas famílias ao endividamento, pois elas vêm acrescidas de compras por impulso, falta de um fundo de reserva para situações emergenciais. "O caminho mais apropriado para encerrar o ciclo de mau endividamento, primeiramente é aprender a equacionar melhor seus gastos partindo do quanto a família tem de renda mensalmente e o quanto possui de dívidas", orienta Rocha.

Segundo ele, o planejamento começa com uma lista simples que registre todos os compromissos financeiros do mês. Isto vai permitir saber as receitas e despesas familiares. "É um registro de tudo o que entra no orçamento, como salários, pensões, rendimentos de aplicações; e de tudo o que tem a pagar, como contas, aluguel, impostos e supermercados", explica.

"Com essa lista, a pessoa terá uma visualização ampla de como poderá lidar com seus custos mensais, elaborando uma estratégia para a quitação das dívidas mais velhas e buscando acabar com os débitos que possuem encargos financeiros mais elevados, procurando o seu gerente de banco, trocando dívidas  como o cheque especial por dívidas mais baratas a exemplo do crédito consignado", recomenda o contador.

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