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O Banco Central divulgou nesta terça-feira (13) a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, que resultou na elevação da taxa Selic de 14,25% para 14,75% ao ano. Esse é o maior patamar desde agosto de 2006. A decisão reforça o tom de cautela do BC diante de um ambiente econômico ainda marcado por incertezas, especialmente no cenário externo.
No documento, o Copom justificou que a continuidade do ciclo de aperto monetário — iniciado em setembro do ano passado e que já acumula alta de 4,75 pontos percentuais — precisa agora de “cautela adicional” e “flexibilidade” para incorporar novos dados que possam impactar a inflação. Embora não tenha sinalizado diretamente os próximos passos, o comitê afirmou que manterá uma postura vigilante e que a calibragem da política monetária seguirá focada na convergência da inflação para a meta.
O mercado financeiro, por sua vez, está dividido. Parte dos analistas projeta estabilidade na Selic em 14,75% na próxima reunião, enquanto outra parcela ainda aposta em um ajuste residual de 0,25 ponto, levando a taxa para 15% ao ano.
Apesar da falta de sinalizações objetivas, o BC indicou que o fim do ciclo de alta pode estar próximo — ou até já ter ocorrido. Em um trecho da ata, o comitê afirma que o atual cenário exige uma política monetária em nível “significativamente contracionista por período prolongado”. Essa formulação substitui o discurso anterior, que falava em política “mais contracionista”, sugerindo que a taxa de juros já atingiu um grau suficiente de restrição à atividade econômica.
O Copom também avaliou que o balanço de riscos para a inflação se tornou simétrico, ou seja, há chances semelhantes de que a inflação fique acima ou abaixo das projeções oficiais. Atualmente, o comitê projeta que o IPCA terminará 2025 em 4,8% e 2026 em 3,6%, enquanto a meta oficial de inflação é de 3,0%, com tolerância entre 1,5% e 4,5%.
Entre os fatores que contribuíram para esse novo equilíbrio de riscos está a possibilidade de uma queda nos preços das commodities globais, o que poderia gerar um efeito desinflacionário. Essa variável, no entanto, depende fortemente do contexto internacional, que o BC considera “adverso” e “particularmente incerto”.O Copom destacou que a política comercial dos Estados Unidos, sobretudo as medidas protecionistas adotadas desde o governo Donald Trump, aumentam a incerteza sobre a economia global. O comitê avalia que os desdobramentos dessas políticas podem gerar efeitos distintos sobre a inflação nos diferentes países, com impactos relevantes nas condições financeiras internacionais.
Além disso, o BC chama atenção para a volatilidade nos mercados e as tensões geopolíticas crescentes, que dificultam a previsibilidade e exigem prudência por parte das economias emergentes na condução da política monetária.