Dólar deve permanecer em R$ 6 em 2025, impulsionado por risco fiscal e cenário global
A combinação de um ambiente global favorável ao dólar, com políticas econômicas nos Estados Unidos indicando continuidade da valorização

O dólar caminha para encerrar 2024 em um patamar muito acima dos R$ 5 previstos pelo mercado financeiro no final de 2023, refletindo um cenário marcado por desafios internos e externos. A moeda americana deve permanecer forte em 2025, consolidando-se em torno de R$ 6, segundo projeções de especialistas. A combinação de um ambiente global favorável ao dólar, com políticas econômicas nos Estados Unidos indicando continuidade da valorização, e a persistente percepção de risco fiscal elevado no Brasil sustenta a expectativa de um câmbio pressionado.

Uma pesquisa realizada pelo Valor com 75 instituições financeiras e consultorias revelou que a mediana das estimativas coloca o dólar em R$ 6,00 ao final de 2025. Caso isso se confirme, a moeda americana terá uma desvalorização modesta de 2,87% em relação ao fechamento recente de R$ 6,1773. O ano de 2024, por outro lado, foi marcado por uma alta expressiva do dólar, que acumulou valorização de 27,30%, encerrando 2023 em R$ 4,8525.

No início de 2024, o mercado tinha expectativas otimistas para o real, impulsionadas por resultados recordes na balança comercial e a perspectiva de fluxo cambial positivo. No entanto, ao longo do ano, a deterioração do cenário fiscal interno e a força do dólar global reverteram essa visão. Instituições como o C6 Bank foram as mais assertivas em suas previsões, estimando o dólar em R$ 5,50, ainda abaixo da cotação atual.

Para o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, a combinação de uma economia americana resiliente e o agravamento da trajetória fiscal brasileira anulam os efeitos positivos de juros mais altos sobre o câmbio. Salles acredita que o aumento nas taxas de juros, que inicialmente poderia atrair capital estrangeiro, agora é visto como um fator que agrava a dívida pública brasileira, reduzindo a atratividade do país para investidores. Ele prevê que o dólar deve encerrar 2025 em torno de R$ 6,00, mas alerta que há riscos significativos de um nível ainda mais alto caso medidas estruturais não sejam adotadas.

Já Marco Antonio Caruso, economista do Santander, compartilha uma visão semelhante, projetando o dólar a R$ 6,00 em 2025. Para ele, a piora no risco doméstico, evidenciada pela inclinação da curva de juros e pelo aumento nos prêmios de risco, mantém o câmbio em patamares elevados. Caruso observa que a percepção de instabilidade fiscal é exacerbada à medida que o país se aproxima de novas eleições, e a política fiscal segue focada em aumentar a receita em vez de cortar despesas. Ele também destaca que o Brasil perdeu parte do interesse de investidores estrangeiros de longo prazo, o que agrava a situação cambial.

Por sua vez, Marco Maciel, economista-chefe do Banco Fibra, acredita que as expectativas de ajustes fiscais foram excessivamente otimistas. Ele ressalta que é improvável que o atual governo, de orientação progressista, opte por cortes significativos em gastos voltados para a população vulnerável. Para Maciel, cerca de 70% da desvalorização do real em 2024 foi causada por questões fiscais, cenário que não deve melhorar em 2025. Ele prevê que o dólar poderá atingir R$ 6,75 no final do próximo ano, refletindo uma depreciação adicional da moeda brasileira.

O consenso entre os especialistas aponta para um câmbio desafiador em 2025, com o dólar consolidado em patamares elevados. Fatores como a percepção de risco fiscal, a força da moeda americana globalmente e a falta de ações contundentes para estabilizar a economia brasileira devem continuar pressionando o real.

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