Compra de criptoativos passa a ser contabilizada na conta de capital, decide BC
Importação de criptoativos passará a ser contabilizada na conta de capital, seguindo regra do FMI

O déficit em conta corrente do Brasil vai cair significativamente a partir do próximo mês, uma vez que a compra de criptoativos deixará de ser considerada uma importação que afeta o saldo da balança comercial, disse o Banco Central na segunda-feira (24).

Segundo Renato Baldini, vice-chefe do Departamento de Estatísticas do BC, a revisão segue uma mudança metodológica no Fundo Monetário Internacional (FMI).

Desde 2019, os criptoativos eram tratados como mercadorias, impactando a balança comercial. Agora, eles passarão a ser registrados na conta de capital.

“Haverá impactos significativos”, disse Baldini a jornalistas, acrescentando que o déficit em conta corrente de 2023 diminuirá de US$ 30,8 bilhões para US$ 19,1 bilhões, já que as importações líquidas de ativos criptográficos de US$ 11,7 bilhões do período não serão mais incluídas no cálculo da balança comercial.

Para o período de janeiro a maio deste ano, o déficit em conta corrente será reduzido para US$ 13,8 bilhões , de US$ 21,1 bilhões divulgados nesta segunda-feira, com a exclusão de importações líquidas de ativos criptográficos no valor de US$ 7,3 bilhões.

Os criptoativos passarão a ser incluídos na conta de capital do balanço de pagamentos, que registra as transações que envolvem compra e venda de ativos não produzidos e transferências de capital, a partir do próximo mês, quando serão divulgados os dados de junho.

Essa linha tradicionalmente apresenta valores baixos – de janeiro a maio, o saldo foi positivo em US$ 67 milhões.

Com a mudança metodológica do FMI, o saldo do balanço de pagamentos global, que compreende as contas corrente, de capital e financeira, permanecerá o mesmo.

Contudo, a análise da saúde da posição externa de um país normalmente analisa quanto do déficit da conta corrente é coberto por fluxos líquidos de investimento estrangeiro direto, que se enquadram na conta financeira.

Baldini reconheceu que à medida que o déficit em conta corrente diminui enquanto a conta financeira permanece inalterada pelas transações de criptoativos, a comparação da cobertura do déficit em conta corrente pelo investimento direto no país apresentará um quadro mais favorável para o Brasil.

Maio

O Brasil registrou déficit em transações correntes ligeiramente abaixo do esperado no mês passado, pela metodologia ainda em vigor, mas o investimento direto no país ficou aquém das expectativas, mostraram dados do Banco Central na segunda-feira.

O saldo em transações correntes ficou negativo em US$ 3,4 bilhões no mês, com o déficit acumulado em 12 meses totalizando o equivalente a 1,79% do Produto Interno Bruto. No mesmo mês do ano passado, o Brasil havia registrado superávit de US$ 1,093 bilhão.

A expectativa em pesquisa da Reuters com especialistas era de um saldo negativo de US$ 3,5 bilhões em maio.

Em maio, a importação de criptoativos aumentou 55% sobre o mesmo mês do ano passado, somando US$ 1,5 bilhão.

Já os investimentos diretos no país alcançaram US$ 3,023 bilhões em maio, contra US$ 4,75 bilhões projetados na pesquisa e US$ 4,355 bilhões no mesmo período de 2023.

No mês, a conta de renda primária apresentou déficit de US$ 5,230 bilhões, ante rombo de US$ 5,062 bilhões em maio do ano passado.

Em maio, a balança comercial teve superávit de US$ 6,357 bilhões, contra US$ 9,346 bilhões no mesmo mês de 2023. As exportações de bens totalizaram US$ 30,7 bilhões e as importações de bens chegaram a US$ 24,3 bilhões, redução de 6,9% e aumento de 3,1% respectivamente na comparação anual.

Já o rombo na conta de serviços ficou em US$ 4,482 bilhões, contra saldo negativo de US$ 3,227 bilhões em maio do ano anterior.

(Reuters)

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