Empresas de energia eólica no Nordeste enfrentam prejuízo de R$ 1,4 bilhão
O cenário atual deixa clara a urgência de uma solução para a crise que ameaça o setor de energias limpas no Brasil

As maiores empresas de energia eólica atuantes no Nordeste brasileiro contabilizam um prejuízo total de R$ 1,4 bilhão em 2024, causado por limitações técnicas e regras do setor elétrico que afetam a transmissão da energia gerada. Esse rombo financeiro já levou algumas companhias a suspender planos bilionários de investimentos na região, comprometendo a expansão do setor de energias renováveis no país.

O problema envolve, principalmente, o atraso em linhas de transmissão e subestações, o que impõe restrições à quantidade de energia que os geradores eólicos podem entregar. A Folha obteve acesso ao conteúdo de uma reunião entre executivos dessas empresas e representantes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), realizada no final de agosto.

Empresas relatam prejuízos crescentes

Entre as participantes do encontro estavam companhias como CPFL, EDP, Engie, SPIC e Voltalia, que possuem grandes parques eólicos na região. A CPFL, por exemplo, relatou perdas de R$ 200 milhões em 2024. Já a EDP afirmou que está sofrendo com cortes superiores a 30% no potencial de geração, resultando em R$ 3 milhões de prejuízo por semana. A SPIC registrou perdas de 65%, o que representa R$ 10 milhões por mês, enquanto a Voltalia teve 80% de sua potência total cortada, acumulando um prejuízo de R$ 111,2 milhões entre janeiro e setembro.

As empresas alertaram sobre o risco de inadimplência em cascata, que pode afetar o pagamento de dívidas, operações de manutenção e até aluguéis dos terrenos onde estão instaladas as turbinas eólicas. Elas afirmam que o setor, anteriormente elogiado por sua credibilidade global, corre agora o risco de ser destruído.

Limitações impostas pelo ONS e o impacto financeiro

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem limitado a geração de energia na região Nordeste por questões de segurança elétrica, devido à falta de infraestrutura de transmissão. Quando o ONS determina cortes na produção, as empresas não só deixam de receber pela energia não gerada, como também são obrigadas a comprar energia de outras usinas, frequentemente térmicas, que possuem um custo muito mais alto.

Robert Klein, presidente da Voltalia na América Latina, afirmou que várias empresas já estão sem caixa. “É a situação mais crítica que já vivemos no setor. Isso cria um precedente muito ruim para o futuro das energias renováveis no Brasil, pois retira a confiança no setor.”

A Voltalia, que opera no Brasil há 18 anos, decidiu congelar uma carteira de investimentos de R$ 5 bilhões, totalizando 8 gigawatts em novos projetos, devido à incerteza no setor. Fernando Elias, diretor da Casa dos Ventos, também criticou as limitações do ONS, afirmando que a decisão de restringir a distribuição de energia não pode ser feita às custas dos geradores.

Judicialização e busca por soluções

Com a situação escalando, as empresas recorreram à Justiça após não conseguirem resolver o impasse com a Aneel. As companhias acreditam que os prejuízos causados pela incapacidade de transmissão deveriam ser considerados um fator externo, e que a compensação deveria vir através de encargos na conta de luz. A Aneel, no entanto, resiste a essa ideia.

O ONS, por sua vez, declarou que está operando conforme as normas de segurança e que os cortes são necessários para garantir a confiabilidade do sistema elétrico. O órgão também trabalha em conjunto com os geradores e fabricantes para melhorar o desempenho dos equipamentos.

O paradoxo do setor energético no Brasil

A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, destacou a ironia da situação. “É um paradoxo: enquanto o Sudeste queima óleo para gerar energia, temos um excedente de geração no Nordeste que não podemos entregar, e ainda somos punidos por isso.”

Empresas como CPFL, EDP e SPIC reforçaram o impacto negativo que os cortes de geração eólica e solar estão causando no sistema elétrico brasileiro, resultando em grandes prejuízos e colocando em risco o futuro da competitividade das energias renováveis no país.

O cenário atual deixa clara a urgência de uma solução para a crise que ameaça o setor de energias limpas no Brasil, uma indústria vital para o futuro energético do país e para a transição global rumo a fontes sustentáveis de energia.

(Com Folha de São Paulo)

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