Lula sela parceria estratégica com China e fecha acordos bilionários mas esbarra em entraves na Nova Rota da Seda
Nos encontros, recheados de pompa e honrarias, Lula e Xi coincidiram em vários tópicos da agenda global

Em visita marcada por gestos simbólicos e discursos afinados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou uma aliança política de longo prazo com o líder chinês Xi Jinping, colocando a China em posição de parceiro prioritário do Brasil no cenário global.

A viagem aconteceu após a escalada protecionista liderada por Donald Trump e num momento em que a América Latina volta a ser alvo de pressões econômicas e migratórias dos EUA. Para Lula, essa aproximação não é apenas estratégica, mas urgente: "A relação entre o Brasil e a China nunca foi tão necessária", afirmou.

Durante os encontros no imponente Grande Salão do Povo, Lula e Xi demonstraram sintonia ao criticar o protecionismo, o unilateralismo e a hegemonia de grandes potências. Repetiram até a mesma frase: “guerra comercial não tem vencedores”. Também defenderam o multilateralismo, o fortalecimento do Brics e mudanças na governança global. Xi destacou que o mundo vive um cenário instável e que os países do Sul Global devem agir de forma coordenada.

Apesar da proximidade, Lula fez questão de marcar posição. Rejeitou qualquer alinhamento automático à China e reiterou que o Brasil não quer ser satélite de ninguém. “Não queremos chefe, nem xerife. Queremos parceiros”, afirmou, em tom crítico ao estilo de Trump. “Quando melhoro minha relação com a China, não quero piorar com ninguém.”

Na área econômica, o saldo da viagem foi expressivo. Segundo a ApexBrasil, foram assinados 36 atos de cooperação, somando R$ 27 bilhões em negócios entre empresas e governos. Entre os destaques: uma nova montadora da GAC Motor em Goiás, uma fábrica de trens em São Paulo, investimentos em combustível sustentável de aviação no Rio, e parcerias em saúde, energia e tecnologia. Além disso, os bancos centrais firmaram um acordo de swap cambial para facilitar operações entre os dois países.

Um episódio curioso marcou o fim da visita. Durante um jantar reservado em Zhongnanhai, residência de líderes chineses, Lula mencionou a Xi Jinping o avanço da extrema direita nas redes sociais e pediu apoio para discutir regulação digital. Segundo relatos, foi a primeira-dama Janja quem puxou o tema, após se manifestar sobre o TikTok — o que causou certo desconforto à mesa. Lula confirmou o pedido e disse que Xi prometeu enviar um especialista chinês ao Brasil para tratar do assunto, algo inusitado vindo de um país que impõe forte censura às plataformas digitais.

Apesar da boa vontade mútua, nem tudo avançou como o governo brasileiro esperava. A tão falada integração entre os planos de desenvolvimento do Brasil e a Nova Rota da Seda ainda patina. A adesão oficial do país à iniciativa foi deixada de lado, e projetos como a ferrovia bioceânica seguem no papel — com traçado definido, mas sem execução. Os chineses, mesmo reconhecidos pela expertise em infraestrutura, ainda não se comprometeram de forma concreta.

Há expectativa de que novos anúncios ocorram na Cúpula do Brics, marcada para julho no Rio de Janeiro. Lula, por sua vez, demonstrou pressa: pediu que Xi Jinping ajude a “superar a burocracia” nas relações bilaterais e agilize a tramitação de projetos. A parceria é promissora, mas transformar intenções em obras concretas ainda vai exigir tempo — e mais do que discursos afinados.

(Com informações de O Estado de São Paulo)

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