Venda de produtos chineses para o Brasil salta até 40% após tarifaço dos EUA
Transportadoras, que atendem de pequenos negócios a gigantes como Shein e Temu, relatam que remessas para o mercado brasileiro subiram 20%

O breve conflito comercial entre Estados Unidos e China, arrefecido nesta segunda-feira (12) com um acordo de suspensão parcial das tarifas por 90 dias, gerou efeitos colaterais no mercado brasileiro. Durante o período de tensão, empresas de logística e importadores notaram um aumento significativo nas remessas chinesas com destino ao Brasil, impulsionado por vendedores asiáticos em busca de novos mercados e ofertas mais agressivas.

A transportadora chinesa Anjun Express, que atende desde pequenos lojistas até gigantes como Shein e Temu, registrou uma alta de 17% a 20% no volume de envios ao Brasil em abril, em comparação com março — mês em que, tradicionalmente, os pedidos começam a cair após o pico do início do ano. Em categorias como eletrônicos, o salto chegou a 40%.

Segundo o vice-presidente da Anjun, Andy Lu, o redirecionamento foi impulsionado pelo “tarifaço” imposto pelos EUA no início de abril, o que levou empresas a voltarem os olhos para a América Latina, especialmente para o mercado brasileiro. “Veem no Brasil uma oportunidade comercial muito grande”, afirmou.

A infraestrutura da empresa também ajudou a absorver esse crescimento. Em julho do ano passado, a Anjun inaugurou um centro logístico em Guarulhos, na Grande São Paulo, elevando a capacidade de triagem diária de 200 mil para 700 mil encomendas.

Outras empresas de logística também sentiram o impacto, mesmo que de forma mais indireta. Thiago Brito, líder da divisão internacional da Total Express, disse que a companhia não percebeu um aumento expressivo no volume de entregas China-Brasil, mas relatou um crescimento no número de novos clientes asiáticos interessados em operar no país. Ele lembra ter se reunido com um operador chinês que, com as operações travadas nos EUA, buscava parceiros brasileiros para viabilizar o envio de produtos da origem até o consumidor final.

Segundo Brito, o Brasil tem se tornado um destino cada vez mais estratégico. “O mercado latino-americano virou um chamariz, e o Brasil é a menina dos olhos”, afirmou.

Os dados confirmam esse movimento. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), as importações vindas da China cresceram 28,1% nos primeiros quatro meses de 2025, frente ao mesmo período do ano anterior. Em abril, o avanço foi de 7,6%, ainda que abaixo dos 9,4% de março.

Para Michel Platini, presidente da Associação Brasileira de Importadores (Ambimp), o aumento das remessas ainda não representa uma escalada nas importações, mas é um reflexo previsível diante do cenário externo. “É um movimento natural em tempos de incerteza”, afirmou. Ele acrescentou que fornecedores chineses têm adotado condições mais flexíveis, como melhoras nos preços e prazos de pagamento mais longos, a fim de atrair o consumidor brasileiro.

Essas vantagens não se limitam aos grandes importadores. De acordo com Bruno Porto, sócio de Mercados Internacionais da consultoria PwC, consumidores finais também estão sendo beneficiados. “Há uma combinação entre preços mais atrativos e estratégias de gamificação em plataformas de marketplace. As empresas estão investindo pesado para conquistar mercado no Brasil, e isso vem se intensificando.”

Com o ambiente internacional ainda instável e os olhos voltados para a América Latina, o Brasil desponta como um dos principais destinos alternativos para o comércio chinês — e tudo indica que essa tendência deve se fortalecer nos próximos meses.

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