Bancos reduzem recomendação para a Bolsa brasileira com alerta sobre impasse fiscal
A deterioração fiscal e as incertezas em torno de reformas estruturais continuam pesando no mercado brasileiro

O cenário fiscal do Brasil segue preocupando investidores e impactando a confiança nos mercados. Nos últimos dias, ao menos três grandes bancos, incluindo JPMorgan, Morgan Stanley e Julius Baer, cortaram suas recomendações para a bolsa brasileira de "compra" para "neutra". As mudanças refletem um ambiente macroeconômico desafiador, marcado por incertezas fiscais, juros elevados e desaceleração global.

Impasse Fiscal e Pessimismo no Mercado

O recente pacote de gastos de R$ 70 bilhões, somado à isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, não foi suficiente para aliviar as preocupações do mercado. Pelo contrário, os bancos argumentam que essas medidas agravam o conflito entre a política fiscal e a monetária.

Segundo o Morgan Stanley, o Brasil enfrenta um "impasse fiscal" que demanda uma solução convincente para restaurar a confiança de investidores domésticos e internacionais. O banco alerta que, enquanto o governo não tomar medidas robustas para conter despesas, a taxa de juros permanecerá elevada, pressionando o crescimento econômico e os lucros corporativos.

Já o JPMorgan ressalta que o impacto de um crescimento mais lento na China, maior comprador de commodities brasileiras, pode intensificar as dificuldades econômicas no Brasil. O banco também revisou sua projeção para a taxa Selic ao fim do atual ciclo de alta, de 13% para 14,25%, prevendo um aperto monetário mais prolongado.

Taxa Selic e Cenário Econômico

A projeção de juros mais altos por mais tempo também foi destacada pelo Julius Baer. Em relatório recente, o banco estima que a Selic possa atingir 14,50% até meados de 2025, corroendo ainda mais o otimismo com a bolsa brasileira. Apesar de estimativas apontarem um crescimento de lucro por ação (EPS) de 16% para 2025 e 15% para 2026, os analistas esperam revisões para baixo devido à persistência de taxas de juros elevadas.

"Com os cortes de taxas voltando ao foco apenas no terceiro trimestre de 2025, o Brasil estará próximo de sua próxima eleição presidencial em 2026, o que pode limitar o progresso fiscal", afirmam os analistas do Julius Baer.

Riscos e Oportunidades

Embora a perspectiva para ações brasileiras seja desafiadora, os bancos apontam algumas variáveis que poderiam aliviar a pressão sobre os mercados:

  • Dólar mais fraco: favorece os ativos locais.
  • Estímulos na China: poderiam impulsionar as exportações brasileiras.

Ainda assim, essas possibilidades são consideradas insuficientes para compensar a tendência doméstica de enfraquecimento. Por isso, os bancos recomendam que investidores interessados em exposição ao Brasil considerem as elevadas taxas de juros reais da renda fixa, que oferecem uma alternativa mais atrativa do que ações no momento.

Perspectivas para o Mercado

A deterioração fiscal e as incertezas em torno de reformas estruturais continuam pesando no mercado brasileiro. Apesar de oportunidades pontuais em renda fixa e segmentos específicos, os grandes bancos alertam que, sem avanços concretos na gestão fiscal, o Brasil seguirá enfrentando desafios para atrair capital e sustentar o crescimento econômico no médio prazo.

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