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As medidas protecionistas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, embora gerem incertezas no comércio internacional, também podem abrir caminhos vantajosos para o Brasil e outras economias emergentes. Essa foi a análise apresentada por Maria Silvia Bastos Marques, ex-presidente do BNDES, e José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, em debate realizado na segunda-feira (5) na sede da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ).
Desde que reassumiu a Casa Branca, Trump elevou tarifas de importação inclusive contra países aliados, como Canadá e México, e intensificou a guerra comercial com a China. Para Maria Silvia, esse movimento representa uma ruptura com o modelo de cooperação multilateral promovido pelos próprios EUA após a Segunda Guerra Mundial. “Estamos vivendo o reverso do que ocorreu no pós-guerra”, afirmou, alertando para um cenário de turbulência econômica global.
Ela destacou que a disputa comercial é, na verdade, uma luta pela hegemonia global entre EUA e China, envolvendo tecnologia, inovação e poder militar. Contudo, criticou a condução caótica das políticas de Trump, apontando que os EUA podem enfrentar inflação alta combinada com desaceleração econômica, devido ao encarecimento dos insumos importados e à perda de eficiência produtiva.
Maria Silvia também vê espaço para o Brasil ganhar protagonismo, desde que aproveite a reconfiguração dos fluxos comerciais. Uma possível desvalorização do dólar, por exemplo, pode ajudar a conter a inflação interna e abrir margem para a redução dos juros. Além disso, defendeu a importância de o Brasil ampliar relações externas e retomar a agenda de acordos comerciais, como o tratado entre Mercosul e União Europeia.
José Márcio Camargo reforçou a crítica ao protecionismo americano. Para ele, reindustrializar um país por meio de tarifas elevadas é uma estratégia falha e contraproducente, que pode levar ao isolamento econômico. “A economia americana vai desacelerar nesse ritmo”, alertou. Segundo o economista, o Brasil deve estar atento às brechas abertas por essa mudança de rota global e agir com responsabilidade para transformar a crise em oportunidade.