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Nos últimos doze meses, apenas em três deles as aplicações na poupança superaram os resgates. Este ano, março foi o único mês em que os depósitos foram maiores que os saques.
Em janeiro, por exemplo, os resgates atingiram R$ 20,1 bilhões, conforme dados do Banco Central. Em abril, último mês com dados disponíveis, a captação líquida foi negativa em R$ 1,1 bilhão. "O que temos observado são resgates consecutivos da poupança. Em 2020, tínhamos estoques superiores a R$ 1 trilhão na poupança", afirmou Mayara Rodrigues, analista de renda fixa da XP, durante o Morning Call da XP nesta quinta-feira (16).
Poupança e contexto da pandemia
"Obviamente, houve o contexto da pandemia, com os auxílios emergenciais e a população gastando mais devido ao isolamento social em 2020. Mas desde então, temos visto um padrão de saques contínuos", acrescentou.
De acordo com Mayara, a saída massiva de recursos da poupança deve-se à migração para outros investimentos mais atrativos e ao uso para pagamento de dívidas. "O movimento de retirada começou a se intensificar em 2021. Em 2022, houve uma retirada líquida de quase R$ 100 bilhões. Em 2023, o padrão continuou, e em 2024 estamos vendo o mesmo comportamento", destacou.
Estoques abaixo de R$ 1 trilhão
Desde 2021, os estoques da poupança têm ficado abaixo de R$ 1 trilhão. "Isso é preocupante porque esses recursos são utilizados como funding para financiamentos imobiliários. Um estoque menor limita a capacidade das instituições financeiras de concederem financiamentos de moradia", explicou.
O Banco Central realizou um estudo para entender as elevadas retiradas de recursos da poupança.
Pagamento de dívidas
"A principal conclusão foi que, em 2022, metade do valor sacado migrou para outros investimentos de renda fixa, como CDBs, LCAs e LCIs", disse Mayara. A outra metade (52%) foi utilizada pelos investidores para atender necessidades financeiras. Mayara mencionou que a mudança de regra pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em fevereiro, que restringiu as emissões de LCAs e LCIs, resultou em uma retração desses ativos.
"Com a queda da Selic, as pessoas buscam outros ativos, desde crédito privado até fundos de investimento, que oferecem maior rentabilidade do que o percentual atrelado à taxa de juros", explicou. No entanto, Mayara destacou que a taxa Selic permanece elevada (10,5%), e parte do dinheiro sacado foi destinado ao Tesouro Direto.